A edição Tonga/Samoa do Camel Trophy, no ano 2000, foi a última a ser realizada. No entanto, Portugal esteve presente e fez-se representar por uma equipa de 2 elementos, sendo o João Martins um deles. Foi, para ele, uma experiência inesquecível e que o fez manter um contacto próximo com a aventura, agora através de uma empresa de Rafting e expedições.
Equipa de Portugal no Camel Trophy Tonga/Samoa 2000: João Martins (direita) e Nuno Filipe (esquerda)
Qual foi o primeiro contacto que teve com o Camel Trophy?
Foi quando me candidatei a participar no evento de 2000. Antes disso já tinha ouvido falar no CT como é óbvio, mas nunca tinha acompanhado por perto nem sabia bem no que consistia.
Quando é que surgiu o desejo de participar numa prova do Camel Trophy?
Simplesmente aconteceu com a vistosa publicidade que trazia o prospecto que me passou nas mãos, com o formulário de candidatura. Todas as actividades que mostravam, as fotos fantásticas, o espírito de aventura que apresentava eram o que eu desejava.
Como decorreu o processo de selecção nacional, para apuramento dos participantes e suplentes?
São precisas muitas horas para descrever tudo. Foram vários dias repletos de acção e momentos fantásicos e divertidos, duros e inesquecíveis.
Resumidamente no ano que participei a primeira selecção foi feita telefonicamente. Os requisitos eram simples, comprovar que as informações do formulário correspondiam à verdade e uma pequena prova verbal de inglês. Logo fui informado que iria receber o bilhete de avião para a primeira prova e que deveria comparecer no aeroporto no dia x às tantas horas. E assim foi. Começou tudo aí, quando apareci lá no aeroporto do Porto de mala feita para 1 semana, já com umas 10 pessoas à espera que não conhecia de lado algum. Partimos para Manga del Mar Menor em Espanha, onde decorreram imensas provas, desde testes escritos a provas físicas, entrevistas e até aulas de formação em diversas áreas (orientação, mergulho, etc). Deste primeiro evento participaram 30 candidatos e foram seleccionados 8.
A segunda selecção foi realizada 1 mes depois, no mesmo local, mas desta vez em conjunto com os candidatos de Espanha e Canárias. O objectivo era serem escolhidos os 2 participantes e 1 suplente de cada país, onde as provas seriam feitas em comum. Novamente testes teóricos e técnicos e provas físicas. No final desta dura semana sairam então os seleccionados.
Ainda não acabou. Novamente 1 mês depois rumamos os 3 (2 + 1 suplente, a Rita Pinheiro) para Cobnor (Portsmouth, Inglaterra), onde teriamos de passar por mais uma semana de provas exigentes e muita formação. A formação era agora muito mais real, em contacto com tudo o que teriamos durante a prova. As viaturas, os equipamentos, a segurança, treinos de tudo e mais alguma coisa, até mesmo algumas horas com um formador dos serviços secretos ingleses para sobrevivência. Foi tudo fantástico. as provas ainda mais durinhas, btt, natação, corrida e orientação, etc, sempre a dar forte.
Qual foi a sua reacção (e a dos seus familiares e amigos mais próximos) quando soube que ia representar Portugal no Camel Trophy?
A minha foi de enorme felicidade. Como nunca tinha tido um contacto muito directo com o CT não tinha ainda bem a noção da verdadeira importância deste evento. Estava feliz foi por ter superado todas as provas e provar a mim mesmo a versatilidade que tinha em todas as modalidades de aventura, muitas coisas que nunca tinha feito.
Quais foram o melhor e o pior (ou mais difícil) momentos da prova em que participou?
O melhor é dificil de escolher porque foram mesmo muitos, quase tudo, todos os dias, todas as horas, inesquecível. O pior só me consigo lembrar do momento que recebemos o nosso resultado no final da 2ª etapa, onde nos encontravamos quase no final da tabela. ficamos bastante abatidos e desmoralizados, porque sabiamos que era resultado de muitos factores que não tinham dependido só de nós.
Qual é a recordação/memória mais marcante com que ficou?
Sem contar com as dezenas de amigos novos, todos fantásticos com espírito CT, de todo o mundo, o principal foi a região que nos acolheu. As ilhas fabulosas do Pacífico Sul que eu certamente nunca mais vou ver com os mesmo olhos, da mesma forma, pois muitos locais, tal como o espírito do CT, apenas se conseguem chegar através deste evento.
No final da prova, toda a experiência de ter participado num Camel Trophy ficou acima ou abaixo das expectativas que tinha, na altura da inscrição?
Milhares de factores acima do esperado. O que se vê nos filmes, as histórias que se lêm, as fotografias que se vêm, não se comparam com a presença real e sermos uma das peças envolventes.
Se houvesse outro Camel Trophy, voltava a inscrever-se e gostaria de participar?
Claro que sim, se pudesse, porque uma das regras do CT é que só é possível participar 1 vez. No entanto, os antigos participantes são convidados a fazer parte da organização, o que não é a mesma coisa de competir mas é igualmente fabuloso pois participa-se em quase tudo da mesma forma. É uma vantagem grande para a organização possuir os antigos participantes pois eles são excelentes elementos que foram já seleccionados por diversos factores e conhecem todo o aparato e necessidades.
De todas as edições do Camel Trophy, qual foi a sua favorita? Porquê?
Não podia deixar de ser aquela que participei. Mas gostaria muito de ter experimentado uma prova das antigas onde ainda não havia competição e o objectivo era fazer uma travessia considerada impossível.
Ainda mantém um contacto próximo com todos os “ingredientes” do Camel Trophy (Land Rover, Todo-o-Terreno, expedições, aventura, …)?
Sim. Depois de ter participado decidi que afinal a vida é muito mais do que a rotina que temos do trabalho e sofá da sala. Por isso, para além de ter participado em quase todas as provas de TT de trial e orientação durante alguns anos, dediquei-me igualmente profissionalmente às aventuras, com uma empresa de Rafting (rafting-atlantico.pt) e expedições. Agora possuo 2 Land Rovers e gostava de ter mais 🙂