Quando se fala em Camel Trophy, chegam-nos à memória imagens de grupos de pessoas em locais distantes, a ajudarem-se mutuamente para ultrapassarem situações difíceis, que seriam vistas por muitos como praticamente impossíveis de ultrapassar.
Essas pessoas vinham de países diferentes, com culturas, línguas, hábitos e costumes também diferentes. Mas juntavam-se no mesmo local, para o mesmo objectivo.
Este objectivo, ao contrário de muitas outras competições e desportos (de grupo ou individuais) não era ser o primeiro, mas sim provar a si mesmo que se conseguiam vencer os desafios impostos durante o caminho, fossem eles físicos ou psicológicos. Só o facto de fazer parte de umas das várias equipas participantes, era já motivo de orgulho, visto que as provas de selecção eram bastante exigentes. A boa preparação física e, mais importante ainda, uma boa preparação psicológica, de cada participante seriam condições fundamentais para superar os obstáculos impostos pela organização dos vários eventos.
Cada evento foi realizado numa zona diferente do globo, aproveitando-se assim as características próprias de cada local e criando eventos melhores que os anteriores.
Mas a estreia do Camel Trophy foi muito diferente daquilo em que se tornou, nos anos seguintes. Tudo começou em 1980, com uma aventura de 6 Alemães, no Brasil. Apesar de ser já bastante exigente, para a época, não se compara aos requisitos logísticos e mediatismo das últimas edições. Estas contaram com a participação de 20 equipas (cada uma delas em representação de um país), de 2 elementos cada, a quem se juntavam diversos elementos da organização e membros da comunicação social, em viaturas de apoio.
É importante referir que os participantes de todos estes eventos eram amadores. Talvez precisamente por esta razão, o número de candidatos aumentasse de ano para ano. Abandonar a rotina do dia-a-dia por 3 semanas, para viver uma aventura sem paralelo, que marca inevitavelmente uma vida, é um apelo demasiado forte para ignorar. Cada país participante recebia as inscrições dos seus concorrentes nacionais, devendo escolher 4 elementos no final, após a realização de provas nacionais de selecção, que poderiam ter a duração de um dia a uma semana. Cada grupo de 4, em representação do seu país, iria depois participar nas provas de selecção finais, durante uma semana bastante exigente. Daqui, sairíam os 2 participantes oficiais de cada país.
Em cada evento realizado, houve sempre uma preocupação ecológica e social, por parte da organização para com as áreas e comunidades locais por onde a caravana do Camel Trophy passava. A grandiosidade do evento obrigava a vários meses de preparação, durante os quais eram analisados os possíveis impactos ambientais e identificadas as oportunidades de contribuição para o melhoramento das condições de vida das populações visitadas. Por estas razões, os governos locais e estatais cooperavam facilmente com a organização e incentivavam o seu regresso. Se assim não fosse, o Camel Trophy não teria, certamente, crescido tanto e não gozaria do estatuto que, merecidamente, atingiu.
Alguns exemplos de contribuições prestadas às comunidades locais ou apoio a projectos científicos, são:
- doação de um Land Rover 110 ao Zoo de San Diego, em 1989, para ser utilizado especificamente no projecto de pesquisa de elefantes, em África
- concluída a edição do Camel Trophy 1990 (Sibéria/USSR), foram doados três veículos Land Rover ao Parque Nacional de Baikal, para monitorização ambiental. Além destes, outros dois Defender 110 foram atribuídos à Raleigh International (uma instituição de caridade Inglesa, dedicada ao desenvolvimento dos jovens), para utilização nos seus projectos comunitários e ambientais na Guiana e Austrália
- ainda em 1990, o Camel Trophy participou na expedição “Pan South America”, uma viagem de Caracas ao Rio de Janeiro, com o objectivo de angariar fundos para ajudar os Índios Yanomami, do Brasil, uma tribo ameaçada pela doença
- em 1991, um Land Rover Defender 110 foi doado ao Dr. Jan Van den Homburg e à sua equipa da Missão Católica-Romana, para a Diocese de Morogoro em Mikumi, permitindo-lhes um meio de transporte valioso para os seus programas de saúde
- em resposta a um pedido de ajuda da Universidade de Southampton, em Inglaterra, e do seu patrono, Sua Alteza Real o Duque de Edimburgo, o Camel Trophy tornou-se um grande patrocinador do Elfin Rainforest ’91, um estudo económico, físico e biológico da floresta tropical de Elfin e baixo Montane, no noroeste da Costa Rica
- dois dos quatro camiões Bedford, de 4 toneladas, utilizados para o transporte da imprensa internacional durante o Camel Trophy 1992 (Guiana), foram doados a um projecto de cultura ecológica, na região Annai da Guiana. Os outros dois camiões foram entregues à guarda da Guyana Defense Force, para serem usados pela Raleigh International
- pela primeira vez na história do Camel Trophy, os participantes construíram, em 1993, uma base permanente para as autoridades da Malásia e grupos de pesquisa ecológica. A estação científica, com dois andares, fica no coração da floresta tropical do Sabah
- ainda durante o evento de 1993, o Governo do Sabah recebeu do Camel Trophy um Land Rover Discovery, para uso na Reserva Animal de Tabin, para auxílio ao controlo de roubo de elefantes
- os participantes do Camel Trophy 1994 trabalharam juntamente com a Universidade Nacional de Salta, para construir um Centro de Pesquisa nos Andes Argentinos. Pensado para servir de base permanente a estudantes e cientistas, permite monitorizar o ecossistema desta significativa área. Os resultados desta pesquisa têm valor científico e médico para a Argentina, Chile, Bolívia e Peru. Um Land Rover Defender 110 Camel Trophy foi doado para facilitar o trabalho do Centro
- durante o ano de 1994, o Camel Trophy tornou-se um grande patrocinador da expedição subaquática da Universidade de Oxford ao Sabah. O projecto pretendia estudar os recifes de corais no Parque Nacional Tengku Abdul Rahman e iria permitir verificar o estado dos recifes, para uma monitorização e preservação a longo prazo
- no Camel Trophy 1995 (Mundo Maya), os participantes efectuaram uma pesquisa arqueológica numa antiga zona Maia, ainda não estudada. Com a ajuda de 20 equipas, os arqueólogos obtiveram mais resultados em 48 horas, do que alguma vez teriam conseguido em meses, ou mesmo anos
- foram oferecidos Land Rover Discovery à organização “Programme for Belize”, ao Zoo do Belize e ao Instituto de Turismo da Guatemala (Inguat), com o objectivo de melhorar as suas condições de trabalho
- em 1995, e pelo terceiro ano consecutivo, o Camel Trophy participou na construção de uma estação de pesquisa. Ficou localizada no Parque Nacional Montecristo, que se estende por parte das Honduras, Guatemala e El Salvador, a uma altura de 2,5KM acima do nível do mar