Para comemorar o 10º aniversário, nada seria mais apropriado do que retornar, uma vez mais, ao local onde tudo começou: a selva Amazónica. A invejável reputação internacional do evento deveria ser celebrada em conformidade. Por isso mesmo, a época escolhida para a realização desta edição coincidiu, propositadamente, com o pico da época das chuvas.
O trajecto ligou Alta Floresta, em Mato Grosso, a Manaus. Um percurso que, segundo os habitantes locais, não era possível de ser completado durante a altura das fortes chuvadas que se abatiam naquela zona. Chegaram, mesmo, a ser feitas apostas sobre o sucesso do evento, com probabilidades bastante baixas.
Segundo eles, seria necessário algo com mais de 500 cavalos de potência e pneus com 2,5m de diâmetro ou lagartas com 1 metro de largura, para o conseguir. Mas esqueceram-se de incluir as “ferramentas” sempre presentes em qualquer Camel Trophy: camaradagem, espírito de equipa e vontade dos participantes.
Após a partida, em Alta Floresta, a caravana seguiu pela “auto-estrada” BR163, que faz a ligação à Rodovia Transamazônica, perto de Itaituba. Daí, seguiram para Este, percorrendo cerca de 50km da “Auto-estrada das Lágrimas”.
Subiram, depois, para Norte, percorrendo a última secção da BR163, até chegar a Santarém.
A ligação de Santarém a Itaparanga (cerca de 500km), na margem Norte do rio Amazonas, foi feita de barco, carregando todas as viaturas desta edição.
Após o desembarque, as viaturas percorreram o difícil caminho até Manaus, sendo esse o seu destino final.
A edição de 1989 do Camel Trophy ficou na história do evento, como sendo uma das mais duras e exigentes. A auto-estrada Transamazónica não apresenta grandes dificuldades durante a época seca, quando é atravessada por grandes camiões. Mas com a chegada das chuvas, tudo muda radicalmente. Os caminhos transformam-se em autêntico barro, chamado de Duropox pelos habitantes locais.
Os condutores que tentaram desafiar as primeiras chuvas, rapidamente se dão por vencidos. Os seus camiões ficam presos no barro, impossíveis de remover devido ao seu elevado peso. Não lhes resta outra opção, senão deixar as viaturas atoladas no meio da estrada e aguardar pela próxima época seca, que só chegará após cinco meses.
Dia e noite, as 14 equipas participantes (que tiveram a companhia de mais um país estreante: a Jugoslávia) lutaram contra o pesadelo da estrada lamacenta. A progressão foi bastante lenta, havendo alguns dias em que a caravana apenas conseguiu avançar 2 ou 3 km. Um dia, em particular, chegou ao absurdo de se conseguir percorrer apenas 800 metros em 24 horas… e foi necessário recorrer à ajuda de um tractor equipado com um grande guincho!
Mas são estas dificuldades que, inexplicavelmente, nos fazem admirar tanto o evento e os seus participantes. Por isso mesmo, esta edição é considerada, pelos admiradores do Camel Trophy, como uma das melhores de sempre!
Resumo da edição
Veículos dos participantes: Land Rover One Ten
Veículos de apoio: Land Rover One Ten
Distância percorrida: 1410km + 500km de barco
Equipas:
Alemanha – Kornel Gartner / Alexander Peterson
Argentina – Osvaldo Chapitel / Daniel Gonzales Dellacha
Bélgica – Peter Denys / Frank Dewitte (Team Spirit Award)
Brasil – Ricardo Simonsen / Alfonso Celso-Baldrati
Espanha – Bruno Montalvo / Fernando Murube
França – Bernard Duc / Yvan Dorier
Holanda – Raoul Jacobs / Gerard Blankestijn
Ilhas Canárias – Jesus Lesmes / Federico Quintilla
Itália – Paolo Siccardi / Marco Rossignoli
Japão – Yukiyasu Uda / Niroyuki Kiku Chi
Jugoslávia – Franjo Bozic / Robert Kaska
Reino Unido – Bob Ives / Joe Ives (vencedores)
Suíça – Dieter Meier / Georges Lacava
Turquia – Yusuf Avimelek / Cem Nomer
(conteúdo baseado em dados fornecidos por: Camel Trophy Owners Club)