Na edição de 1983, o Camel Trophy pisou solo Africano pela primeira vez. O destino escolhido foi o Zaire, com os seus 900.000 km2. As condições naturais do clima e do terreno mantiveram-se adversas, com temperaturas de 48ºC e 95% de humidade e com o percurso de 1600km, de Kinshasa a Kisangani, a variar entre a lama e a areia.
A continuação da internacionalização do Camel Trophy, e o cada vez maior número de interessados em participar, fez com que novos países se fizessem representar. Devido a este aumento, reduziu-se o número de equipas por país para uma.
Foi este o ano da estreia de Portugal no Camel Trophy, cabendo a representação a Manuel Marques Pinto e Pedro Vilas-Boas, que se juntaram a outros países estreantes, como Espanha, Suiça e Hong Kong.
Desta vez, o veículo seleccionado foi o Land Rover Série III. A versão 88’’ foi utilizada pelos participantes e a versão 109’’ foi utilizada para as equipas de apoio e jornalistas.
No dia 6 de Abril, deu-se a partida dos 11 veículos. Em dois dias, conseguiram percorrer cerca de 354km de terreno fácil, chegando a Bandunu sem nenhum incidente. Para celebrar este feito, a equipa Chinesa convida os restantes participantes para dividir 3 galinhas que tinham acabado de degolar.
No dia 10, a caravana alcançou a zona pantanosa de Mai-Ndombe, obrigando a cruzamentos de rios, que eram feitos a vau, construindo pontes ou passando por troncos escorregadios.
O dia seguinte foi marcado pela perda de um dos veículos de apoio. O Série III 109’’ dos jornalistas italianos foi completamente consumido pelas chamas, quando derrubaram o fogão com que estavam a cozinhar. O fogo alastrou rapidamente e os depósitos de combustível suplementar, carregados pelo veículo, ajudaram a que o incêndio se tornasse incontrolável. Felizmente, a única perda foi mesmo a viatura, não tendo havido nenhum ferimento grave. Para evitar o alastramento do incêndio a outras viaturas ou habitações próximas, o veículo foi puxado com a ajuda de um guincho, para uma zona descampada.
A viagem prosseguiu, passando por zonas de lama que chegavam até às portas, sendo os guinchos mecânicos bastante utilizados e revelando-se uma preciosa ajuda. No dia 12, são percorridos 64km em 6 horas. Com os veículos a ficarem com pouco combustível, são feitas mais 6 horas de viagem à noite, para alcançar o ponto de reabastecimento. Ao chegarem ao destino, descobrem que o camião de abastecimento ficou atolado em lama, a cerca de 22km do local onde se encontravam. Três equipas de participantes, nos seus SIII 88’’, partiram em direcção ao camião e, como era impossível retirá-lo, não restou outra hipótese senão passar as 6 horas seguintes a fazer a transferência do combustível entre o camião e o ponto de reabastecimento planeado.
Os desafios continuaram, com mais provas todo-o-terreno a serem superadas, para permitir às equipas ganhar mais pontos, durante o dia 14 de Abril. Passagens a vau em rios rápidos, utilização de guinchos e passagem de zonas de lama continuavam a ser as tarefas diárias das viaturas e dos participantes, que são já peritos na utilização do guincho e dominam o sistema de tracção 4×4 e redutoras dos seus Série III. Por esta altura, passavam o Equador, por caminhos cortados pelo meio da selva. Os 109’’ de apoio ficavam frequentemente para trás, devido à habilidade dos participantes, nos modelos mais curtos, em passarem por entre pequenos espaços no meio das árvores.
Mais dificuldades de abastecimento surgiram no dia 16. Após conseguirem sair com sucesso da selva, os participantes tiveram de utilizar os seus Land Rover e machados para prolongar uma pista de aterragem, que serviria para um avião de abastecimento lhes fornecer alimentação e combustível.
O dia 17 foi dedicado a uma “Special Task”, que consistia em transportar os médicos de apoio a diversas aldeias da zona, onde eram oferecidas consultas e medicamentos. Este foi o primeiro registo de uma prática que se tornou comum, nas edições seguintes do Camel Trophy.
Finalmente, foi possível retomar os caminhos de terra, o que permitiu percorrer 165km num dia, sendo esta uma média recorde no Camel Trophy.
Com temperaturas a atingir os 60ºC dentro das viaturas, mesmo equipadas com tectos tropicais, a caravana atravessou, no dia 20, zonas típicas de savana, com vegetação alta e densa. Os motores dos SIII não mostram sinais de fraqueza e o co-piloto Italiano consegue até adormecer enquanto a viatura, conduzida pelo seu colega de equipa, atravessa terreno irregular, a uma velocidade de cerca de 50km/h.
Dezasseis dias após a partida, chega-se ao dia 22, com as viaturas a entrarem em Kisangani. A madrugada desse dia foi passada a montar um posto de observação de vida selvagem, à luz de faróis. À excepção do 109’’ ardido, todas as viaturas chegaram ao final, totalmente operacionais, provando mais uma vez a sua fiabilidade e robustez, mesmo nas condições mais exigentes que o mundo tem para oferecer.
Resumo da edição
Veículos dos participantes: Land Rover Série III 88’’
Veículos de apoio: Land Rover Série III 109’’
Distância percorrida: 1640km
Equipas e classificação final:
1º – Holanda – Henk Bont / Frans Heij
2º – Portugal – Manuel Marques Pinto / Pedro Vilas-Boas
3º – Hong Kong – Sau-Hing Lai / Kam-Chuen Au
4º – Alemanha – Joachim Haessler / Dieter Geng
5º – Suíça – Charles Botta / Jurg Luthi
6º – Itália – Paolo Contegiacomo / Aurelio Girelli
7º – Espanha – Juan E de los Monteros / Manuel Rodriguez Bautista
(conteúdo baseado em dados fornecidos por: Camel Trophy Owners Club e CamelTrophy.es)